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Paubrasília – A nova métrica de José Diniz

Um relâmpago
e o grito da garça
perdido no escuro.

Bashô

A exposição reúne alguns aspectos da ampla pesquisa empreendida por José Diniz em torno da espécie Paubrasilia Echinata – sob ameaça de extinção desde o século XVI. Natural do bioma Mata Atlântica, esta árvore é também conhecida como pau-brasil, pau-de-pernambuco, arabutã, ibirapiranga, ibirapitá, ibirapitanga, orabutã, pau-de-tinta, pau-pernambuco e pau-rosado.

Diniz encantou-se por sua beleza ao identificar alguns exemplares no bairro onde mora no período da pandemia. A curiosidade do artista o levou a pesquisar distintas áreas de conhecimento visando identificar suas características e familiarizar-se com a história da árvore que dá nome a seu país. Incorpora ao vasto lastro de interesses: estudos botânicos, literários, jornalísticos e antropológicos; símbolos indígenas, africanos e europeus. Apropria-se de pinturas, estampas e mapas históricos; interpreta uma sociedade marcada pela exploração do ser humano e da natureza; denuncia atos atrozes e se perde na delicadeza do vento que balança as pequenas folhas e flores amarelas da imaginação.

Seu processo criativo inclui momentos de contemplação, associados a horas de pesquisa e visitas de campo. Alquimista, extrai o corante do cerne da árvore para colorir tecidos e papéis, utilizados em experiências cromáticas e para dar forma a suas ideias. Sua liberdade criativa arquiteta metáforas de uma realidade violenta e sublime, fala sobre vida e morte, passado e presente. A pesquisa se propõe a contribuir com reflexões sobre o poder e, também, valorizar e difundir um conjunto de manifestações culturais genuínas, promovendo criticamente alguns arquétipos da cultura brasileira. Nas elaboradas contranarrativas que constrói, Diniz resgata o sentido profundo de nossas origens coloniais.

Por fim, o artista compõe uma sinfonia de imagens-fatos-sentimentos em curiosa harmonia-métrica. O exercício lúdico proposto por ele reverbera e, ao observar seu trabalho, somos levados para além da aparência dos fatos. Como num poema haicai, as composições organizadas em trípticos reúnem fragmentos distintos e autônomos que, organizados de forma concisa, criam sentido poético nas unidades rítmicas em que se arrisca artisticamente. Ao comentar a poesia do poeta japonês Bashô, Octavio Paz destaca: “De uma forma voluntariamente anti-heróica, a poesia de Bashô nos chama para uma aventura verdadeiramente importante: a de nos perdermos no cotidiano para encontrar o maravihoso. Viagem imóvel, ao término da qual nos encontramos conosco mesmo: o maravilhoso é nossa verdade humana.” Assim nos sentimos diante da obra de José Diniz: maravilhados com a potência das imagens e símbolos revelados num flash. Como estouro de onda. Como machado no tronco. Como um grito no escuro.

  

Marcia Mello

Curadora

Texto bibliográfico - José Diniz

José Diniz (Niterói /Brasil, 1954) vem se consagrando com uma obra extensa e complexa. A formação de uma visualidade sofisticada inicia-se muito cedo por influência de seu pai, pintor e professor de geometria, e do avô Durval Baptista Pereira, fotógrafo amador, um dos fundadores da Sociedade Fluminense de Fotografia, que presidiu em 1947. Pratica a pintura ainda menino observando o pai no ateliê, José Maria Nogueira. Adolescente, amplia suas habilidades no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde estudou com Ivan Serpa, e partiu para a gravura, incluindo - aos poucos - a fotografia em seu repertório. O odor da terebentina e do hipossulfito de sódio se consolidaram em sua alma. Parte para instalações, vídeos, ações performáticas, mesclando memórias pessoais e coletivas, revelando uma pesquisa ao mesmo tempo crítica e onírica, que dialoga com a produção artística contemporânea. Inquieto, muda de suporte e de técnica para dar forma a suas ideias que ressignificam questões históricas e articulam aspectos sociais, políticos, ambientais dos dias atuais. “Pau Brasil”, sua mais recente pesquisa, dá sequência aos trabalhos sobre biomas brasileiros.

Frequentemente, explicita o processo criativo nos livros artesanais que expõe em rico diálogo com a obra finalizada. Os fotolivros manifestam o raciocínio, o passo a passo criativo; evidenciam o seu entendimento sobre os temas aos quais se dedica e transformam-se em narrativas poéticas complementares, dialéticas e originais. Esse caminhar revelado e compartilhado confere espessura ao conjunto de sua produção artística.

 

Participou de inúmeras exposições coletivas e realizou exposições individuais nos EUA, Argentina, Brasil, Rússia, Portugal e Uruguai, em instituições de renome: Art Museum of Americas, Casa Roberto Marinho, CdF – Centro de Fotografia de Montevidéu, Blue Sky Gallery, ArtMedia Gallery, Galeria Arcimboldo, Centro Cultural Recoleta, Fondacion Manoel Ortiz, DOC Galeria, Centro Cultural da Justiça Federal, Fundação Iberê Camargo.

 

Seus trabalhos constam no acervo do Museum of Fine Arts Houston, Bibliothèque Nationale de France, Green Library – Stanford University, Museu de Arte do Rio/MAR, Coleção Joaquim Paiva/Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/RJ, entre outras coleções particulares.

Márcia Mello

Texto bibliographico - Márcia Mello

Marcia Mello é bacharel em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Foi diretora da Galeria Tempo e participou da implantação do Departamento de Fotografia do MAM/RJ, onde atuou como curadora e conservadora.

Assinou a curadoria de exposições em importantes espaços institucionais na França e no Brasil. Com 3 livros publicados, mantem ateliê de restauro no Rio de Janeiro, onde atua regularmente no tratamento de acervos fotográficos públicos e privados.

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